Muitos cineastas espanhóis contemporâneos estão preocupados em retrtatar em seus filmes questões de importância social relevante, como é o caso de Fernando León de Aranoa, como vimos há pouco, e Icíar Bollaín, entre alguns outros que já teremos oportunidade de conhecer. Bollaín, em 2003, produziu o longa "Te Doy Mis Ojos", com Laia Marull, Luis Tosar, Candela Peña e Rosa María Sardà, que trata da violência de um homem contra a sua mulher.Claramente um drama preocupado na investigação do tema, "Te Doy Mis Ojos" cria dois personagens muito fortes para construir a história de um casal que está desesperadamente em busca de reencontrar o amor que sentia quando se conheceu, cada um ao seu modo. O longa começa com a fuga de Pilar (Laia Marull) da sua casa à casa da irmã, fugida de Antonio (Luis Tosar), seu marido. Pilar leva somente seu filho, um par de coisas e o desespero e medo cravados em seus olhos. Não tarda muito a que Antonio vá atrás da esposa, e o encontro que se estabelece entre os dois nesse momento é um exemplo muito bom do que viria a ser o tom da película.
Enquanto vemos a expressão de medo e desespero de Pilar por saber que seu marido pode lhe machucar de novo a qualquer momento, tem lugar também o desespero de Antonio por não conseguir controlar suas ações nem palavras. Aqui podemos ver que o diretor Icíar Bollaín não pretende fazer do seu filme um exemplo de maniqueísmo que obviamente se poderia esperar de uma história na qual o "bom" e o "mau" estão muito bem definidos. Essa sequência mostra que a Bollaín interessa a investigação profunda dos dois personagens, seus motivos, suas buscas pessoais, suas lutas internas. E consegue, já que, em momento algum, Antonio se torna o montsro da história, e "Te Doy Mis Ojos" nos leva a estar ao lado tanto de Pilar como de seu violento marido.
O que torna esse filme bonito é o interessante manejo do diretor em fazer insinuações e sugerir todo o tema da violência a partir de peculiaridades dos seus personagens. Há sequências belíssimas nas quais sentimos profundamente a dor de Pilar por ter-se visto obrigada a abandonar o marido que ama, ou quando notamos a partir de sutilezas o que é que pode justificar, para Antonio, seu comportamente agressivo. Há uma cena entre os dois que é muito ilustrativa nesse sentido, que é quando Pilar decide voltar pra casa porque acredita nas palavras de amor de Antonio - os dois estão sentados em uma mesinha a céu aberto, e, felizes, gritam para que todos ouçam que nada poderá com o amor deles: "A tomar por culo todo el mundo!", dizem, aos berros e sorrindo.
"Te Doy Mis Ojos" tem no casal protagonista uma dupla de atores que consegue atribuir aos seus personagens a força emocional necessária para que o filme funcione. Laia Marull interpreta uma Pilar capaz de causar os mais diferentes sentimentos no espectador, mas é Luis Tosar que rouba a cena aqui, por conseguir, numa interpretação magnífica, ser profundamente honesto com o seu complexo personagem, conseguindo fazer que o público lhe tivesse um mínimo de comiseração.
"Te Doy Mis Ojos" é o oitavo filme de Icíar Bollaín e a música do filme é de Alberto Iglesias, um dos mais renomados músicos de cinema não só espanhol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário