
Javier Ángel Encinas Bardem. Natural de Las Palmas de Gran Canaria, Ilhas Canarias na Espanha. Nascido: 1/3/1969.
Um ator em plena ascensão, considerado um dos atores mais sexy do cinema atual (mesmo aparecendo quase sempre acima do peso nos filmes). Depois de Antonio Banderas foi o ator espanhol que conseguiu um maior destaque no cinema internacional.
O sangue para as artes corre nas suas veias, pois sua mãe, Pilar Bardem, é atriz desde 1965, e seus irmãos, Monica e Carlos, também seguiram carreira. Se isso não bastasse, ainda tinha o avô, Rafael Bardem, na carreira dos atores de cinema.
O primeiro filme em que Javier participou se chama "A idade de Lulu" (1990) e atuou ao lado da sua mãe.
Javier já trabalhou em mais de 25 filmes e seus trabalhos mais conhecidos são: "Carne Trêmula" (Almodóvar), "Antes do anoitecer", "Segunda-feira ao sol", "Mar Adentro" e "O amor nos tempos do cólera".
Recebeu uma indicação ao Oscar pela atuação no filme "Antes do anoitecer". Ganhou o prêmio Goya como melhor ator coadjuvante em "Dias contados" (1994). Ganhou duas vezes o prêmio de melhor ator no festival de Veneza por "Antes do anoitecer" (2000) e "Mar Adentro" (2004).
Segue um texto que foi extraído de uma comunidade do Orkut feita em homenagem ao ator:
A dócil macheza de Javier Bardem - um texto
Dentro do caráter hipertrófico da sexualidade de seus personagens, Bigas Lunas – me parece – foi quem descobriu a melhor encarnação do masculinismo, da macheza latina, da virilidade espanhola: Javier Bardem é a corporificação certeira do masculino que vive bem acordado e vigiado em nossas consciências. Ou, como melhor definiu Julian Schnabel: “macho em físico de touro com nariz de boxeador”. E Javier Bardem esteve para Bigas Lunas assim como Antônio Banderas, para Pedro Almodóvar, com um pequeno adendo: ainda que impregnado por latinidade, Banderas tinha (e tem) uma virilidade delicada e sedutora, ao passo que Bardem, em sua filmografia “espanhola”, exacerbava na testosterona. E eu fiquei admirado com maior imediatez pelo Javier – quando ele ainda não era tão famoso no Brasil – do que pelo Banderas – quando ele já havia sido “descoberto” por Madonna. Como sempre, o que mais me chamou a atenção no primeiro, além de sua presença cinematográfica cheia de inteireza, foi o ar de desamparo miscível à sua macheza exorbitante, emanado por seus olhos encharcados de melancolia, seus olhares longos e lânguidos, num rosto de traços firmes em um corpo de sólido. A coabitação da aspereza viril de seu físico com sua atmosfera de desproteção me encantou nos filmes de Bigas Lunas e foi reiterada em “Carne Trêmula”, filme de Almodóvar, que me fez guardar seu nome. A partir de então, passei a acompanhá-lo com certa regularidade.
Javier Bardem é um grande ator. Um ator esplendoroso. A prova mais recente disso foi para mim revelada em “Antes do Anoitecer”. Numa interpretação pungente e vigorosa, Javier encarnou Reinaldo Arenas com muita dignidade, movendo-se pela paixão, mas não deixando o emocional vir às cambulhadas. Havia comedimento (não entendendo-se, aqui, uma crítica) e, ao mesmo tempo, despudor.
E o mais impressionante: a possibilidade de viver um homossexual com uma sutileza perceptível apenas para os que conhecem bem a homossexualidade e seus códigos. Seus gestos sinuosos, sua postura corporal ensimesmada, braços desenhando no espaço o caminho para insinuações de dubiedade, olhares que, em segundos, eram capazes de dardejar com malícia e, depois, com desabrigo, foram detalhes apreendidos com um rigor impressionante por Javier. O mais interessante – além da óbvia colocação que eu poderia fazer, já que o ator saiu dos personagens medularmente machos para experimentar um gay perseguido em “Antes do Anoitecer” – é o fato de já tê-lo visto vivendo outro homossexual num filme (“Segunda Pele”) exibido no Festival do Rio, em setembro 2001. Tratava-se da incorporação de um personagem que, em quase nada, poderia ser relacionado ao seu Reinaldo Arenas. Foi como se Javier respeitosamente tivesse pesquisado o amplo universo homossexual. Assim como entre os heterossexuais, entre os gays, há gays e gays. Essa abrangência, que não me parece tão nítida na mídia, que, preguiçosa ou mal intencionalmente, prefere reduzi-la ao aspecto mais caricato, espalhafatoso, fica muito clara nas intenções interpretativas de Javier Bardem em “Segunda Pele” e em “Antes do Anoitecer”. Há um dado dialogal com os diferentes aspectos da vida gay, um descompromisso com a raquítica visibilidade permitida aos homossexuais pela mídia. Isso me sensibilizou bastante, me tocou fundamente, fazendo com que eu o apontasse como um dos atores de que mais gostei de assistir no cinema – e, também, um dos grandes atores mundiais. E um ator corajoso, porque, dentro de mim, há uma profunda certeza de que Javier pode ganhar projeção internacional, via Hollywood, mas ele não hesitou na cessão de sua imagem de “macho em físico de touro”, tão necessária para a nutrição da nítida demarcação dos papéis sexuais no esquema cinematográfico americano até hoje, para um gay cubano em filme de Schnabel,
o que poderia facilmente enodoar sua masculinidade e se tornar uma zona de contenção de seu acesso ao Olimpo do cinema industrial do mundo – apesar de ter ouvido de não sei qual ator americano que, atualmente, o grande salto para a fama de um ator iniciante seria viver um personagem gay, capaz de render polêmicas que ocupariam revistas e programas de televisão, atiçando e alimentando a curiosidade de um público (a grande maioria da pessoas) para o qual certos tabus (os de sempre) ainda não foram dissolvidos pela dita revolução sexual em pleno século XXI. Fazer o quê? O fato é que, se esse grande público pudesse acompanhar a trajetória de Javier Bardem no cinema, certamente se surpreenderia com suas interpretações para personagens que são verdadeiros antípodas. E certamente tenderia a creditar vivências pouco ortodoxas à lealdade de seu trabalho. Afinal, me parece mais fácil acreditar num macho vivido por um gay do que num gay vivido por um macho, porque a macheza não permite docilidade, mas a docilidade deve virar macheza quando se deseja ser macho. Javier Bardem surpreende-me por, com sua densidade, seu vigor, seu apuro, transitar incólume por tais reduções e simplismos, estabelecendo a possibilidade da dócil macheza, do dengo viril.
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